Nunca cometi nenhum crime, mas me
encontro preso em meio a uma multidão de desconhecidos e cercado de muros altos. Recebo uma dose diária de medicamentos que
enrijecem todo meu corpo. Dizem-me que sou louco, mas nunca me explicam o que
fiz para que pensem isso de mim. Não
recebo nenhum mau trato físico, mas a pior de todas as torturas é encontrar-me aqui
limitado a olhar o céu pelo retângulo aberto acima de minha cabeça. Não consigo
contemplar o nascer nem o pôr do sol, com suas linhas paralelas ao universo.
Eu que viajava
nas nuvens, catalogava estrelas e estudava os planetas, encontro-me hoje colecionando
bitucas de cigarro, para dar, vender ou trocar por qualquer bugiganga que este sujeitos com quem convivo
possam me oferecer. Com alguns deles é possível inclusive manter um diálogo,
falar daquilo que gosto e alucinar que não me encontro neste lugar fétido e
aterrorizante, mas logo a realidade aparece
e lembro que além daquela porta há um mundo do qual sem motivo
convincente fui privado de participar.
De fato chego
a pensar que estou ficando louco pois, cada dia que passo olhando essas paredes
sempre iguais, sinto-me um pouco menos EU. Estou perdendo minha essência.
Minhas cores estão se apagando. Já não sou mais um astrônomo, tornei-me uma
estrela prestes a brilhar pela ultima vez. Amanhã talvez eu já não seja mais a
mesma pessoa, talvez eu seja mais um normatizado e possa sair deste lugar,
tornando-me assim “livre.”
Por: Wellington Oliveira
A compreensão da sociedade sobre a loucura está cada vez mais pobre devido à falta de informação sobre o procedimento que é feito para o tratamento dos pacientes com transtornos mentais e a criação de um estereótipo voltado para a imagem do louco que é visto como um ser sem direitos e deveres, como alguém perigoso e propício a cometer algum ato de maldade, com isso passam a discriminá-los e excluí-los da sociedade por sentirem medo de suas atitudes. O lugar da loucura vem sendo construído aos poucos e o não entendimento dessas informações e sobre os serviços que são utilizados tornam o sistema falho. A crise não acontece de um dia pro outro, ela se desenvolve com os dias. Precisa-se de um passado para que essa crise venha à tona.
ResponderExcluirMudar conceitos e atitudes já seria um grande passo.
Pessoas com sofrimento mental foram classifidas como loucas constituindo perigo para aa sociedade, por isso deveriam ser segregadas. Infelizmente, esse cenário não ficou no passado, a luta Antimanicomial está diretamente ligada à nós que estamos em formação, somos impelidos a promoção de novos conceitos sobre a loucura, a reinventar novas alternativas de tratamento, é necessário uma ressignificação capaz desmontar este modelo ainda atual, considerado falido, que desumaniza o indivíduo, é preciso desmistificar essa base ideológica e favorecer modificações sobre o olhar que se tem sobre o "louco", pois o imaginário social ainda é permeado de preconceitos e saturado de noções errôneas.
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