Até certo tempo, realizar um diagnóstico era de certa
forma, a tentativa de enquadramento do paciente em uma classe que, pudesse
abrigar esse sujeito em uma série classificatória de sintomas. Fazendo com que
o sujeito desaparecesse e ao distúrbio, era dada total importância. Trazendo a
discussão certos questionamentos do tipo: será que para
diagnosticar é
necessariamente válido o afastamento do sujeito? O diagnóstico é realmente
importante para a direção do tratamento? Como diagnosticar o sujeito por uma
base analítica? Essas são questões que, antes de qualquer estudo, precisam ser
respondidas.
Desde o
princípio, Freud postulava a importância de um diagnóstico prévio, antes de a
análise propriamente dita começar, seria essencial e decisivo na direção da
cura. É como se o psicanalista apenas aceitasse o paciente, de forma
provisória, por um período curto, para que assim, fosse feita uma sondagem do
caso do paciente, e para que, em um eventual corte no início do tratamento, não
haja aflição do ponto de vista do paciente. O diagnóstico diria assim, através
da análise, se o paciente é apropriado para a psicanálise. Freud comenta ainda
que não existe nenhum processo que venha a substituir esse tipo de exame preliminar
que dê subsídios suficientes para o analista. Freud assinala dois aspectos
referentes ao diagnóstico: o método, ou seja, a escuta do discurso, e
diagnóstico, sendo esse o início do tratamento. Continuando, Freud mostra que
existem casos indicados para a psicanálise e outros não, sendo assim de
responsabilidade do analista tomar o caso em análise, e assumindo quaisquer
situações desfavoráveis que venham a ocorrer. Para ele, o diagnóstico é
imprescindível para a condução da cura, sabendo que esse mesmo diagnóstico só
será confirmado com a continuidade do tratamento. O analista, na visão de
Freud, deve rejeitar o uso de coordenadas que não sejam referenciais a forma
que o tratamento segue, ou seja, evitar qualquer tipo de previsão do
tratamento, introduzindo assim, a clínica da escuta, e percebendo que quanto
mais se sabe, menos esse saber acumulado será usado, tomando como modelo, um
cirurgião, que isola a lesão ao mesmo tempo em que trata dela, sendo a sua
prática aquela em que o diagnóstico se identifica concretamente com o
tratamento. E para que isso aconteça, haja uma busca pela posição subjetiva do
cirurgião, que deixa de lado toda reação afetiva e até toda simpatia humana e
tem como objetivo único conduzir, tão habilmente quanto possível, a sua operação
ao sucesso. É perigoso para o psicanalista o sentimento de ambição terapêutica
de alcançar algo a produzir efeito convincente sobre outras pessoas, tendo por
base a frase, eu trato e Deus cura. O diagnóstico seria por assim dizer,
investigação e tratamento.
É fato
que nem todos os indivíduos que comparecem ao psicanalista, necessitam de
análise. Sendo dessa forma o diagnóstico, essencial para fazer-se uma triagem
para perceber quem necessita efetivamente da análise ou não. Á essa etapa
primeira da análise, é dada o nome de entrevistas preliminares, para que dessa
forma, seja permitida a entrada ao inconsciente. Em relação às entrevistas
preliminares, Miller menciona que o primeiro pedido que o indivíduo faz ao
analista é de ser admitido como cliente ou paciente, significando assim, que
essas entrevistas preliminares signifiquem um adiamento da análise até que o
analisa autorize a necessidade de análise. No entanto, Miller aborda três
níveis de entrada em análise, sendo eles: a avaliação clínica, onde deve se
buscar sinais que identifiquem uma possível psicose e diferenciar a estrutura
psicótica da neurótica e da perversa; A localização subjetiva, que trata de
questionar a posição de quem fala em relação aos próprios ditos, permitindo que
o sujeito continue a mentir um pouco, nos seus próprios ditos; e por último, a
introdução ao inconsciente é permitida através da localização subjetiva. As
entrevistas preliminares, não são apenas uma busca para descobrir onde o
sujeito se encontra, e sim de efetuar uma mudança na posição do sujeito e de
transformar a pessoa que veio em um sujeito, em alguém que se refere ao que
disse, guardando certa distância em relação ao dito. A clínica da experiência
analítica exige que, no processo do tratamento, os ideais do analista sejam
esvaziados e que o diagnóstico, diga apenas as maneiras como se repartem, na
estrutura, os resultados de um confronto com o mistério do desejo do Outro e
não as que permitem dividir os fenômenos em função de modelos dados. Sendo
assim, a psicanálise não procura reagrupar os sintomas, mas busca uma coisa de
outra ordem, a estrutura.
A
estrutura é, fazendo uma analogia com uma casa, para levantá-la usam-se vigas,
elementos que sustentam a construção que vai ser realizada, e outros elementos
de vedação, como as paredes, que irão completar a construção. Sendo dessa forma
os elementos de estrutura fundamentais, permitindo que a casa seja levantada e
que o teto não desabe. A estrutura clínica é o lugar onde o ser falante está na
estrutura da linguagem, esse mesmo lugar determina a questão de cada um em
relação com o grande Outro. Tendo o conceito de estrutura, uma estreita ligação
com a linguagem, com o significante e com o simbólico. Para Lacan, o
inconsciente se estrutura como uma linguagem, a estrutura perpassa o
significante, pois nem tudo que é estrutura é significante, algo escapa, algo
da ordem do objeto, do real, que se incrusta no simbólico.
É certo dizer que o diagnóstico de acordo com a
psicanálise acontece pela estrutura e pela linguagem, onde por meio da
linguagem pode-se encontrar a localização do sujeito ante a sua satisfação e o
seu gozo, para que então, o analista consiga gerenciar o processo de cura.
Por:Antônio
Gonçalves da Silva Neto
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