segunda-feira, 19 de maio de 2014

O que será?













O que será que não limite?

Cantam os poetas aquilo que só a arte é capaz de traduzir, Simone de Beauvoir em sua célebre frase afirma que "É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente." Pois bem, ela sabiamente percebeu que a alma usa de algumas ferramentas delicadas para se comunicar.
A música "O que será" do artista Chico Buarque conta com uma melodia e letra inquietante, ao questionar-se sobre algo que é incompreensível, uma esfera subjetiva que não se explica, não se aprende, não se define, mas que causa um série de efeitos, será que a poesia nesse momento quer transladar nossos desejos inconscientes? 
"Não tem descanso, cansaço ou limites." Essa definição é parecida com nosso desejo, nosso buraco no fundo da imagem, na repetição constante da alienação e separação, nós sujeitos desejantes buscamos uma totalidade que não mais existe,
foi para sempre perdida. Para Melaine Klein, o objeto perdido é a mãe que nos proporciona o momento paradisíaco, o qual sempre queremos voltar, mas é somente quando o perdemos que conseguimos evocá-lo. O sujeito se consiste e mergulha na cultura para elaborar suas faltas e buracos.
Será que é um grande amor? Será um emprego? Será aquele curso no exterior ou será que será?
A vida são repetições reeditadas, e elas nos dão possibilidades para vivermos de forma criativa o nosso material inconsciente. 
O buraco, a solidão, o mistério, tudo que não é, mas ali está, nos são inevitáveis e é essa experiência da incompletude que nos pulsiona à busca de um todo que não existe, somente de forma fantasmática.

"O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que será
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vem atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo..."



Por: Jakeline Silva


Um comentário:

  1. - Jack, nessa sua postagem, me veio na cabeça se realmente é necessário ter que nos desvendarmos e descobrir o sentido que o outro tem para acharmos o nosso próprio sentido. Onde começar a procurar? Quem vai apontar pra onde devemos ir? Ruas, esquinas, garrafas de cerveja.. Tantas percas, tanta procura.. A arte, como foi citada no texto, seria um dos grandes meios para que nós pudéssemos ultrapassar as barreiras do saber, do ser. Um grande avanço subjetivo para tentar encontrar nela, quem sabe, o sentido que eu ou você, sei lá, tanto procuramos. Será que não seremos condenados pelos nossos desejos? Pelas nossas vontades? Não quero perder mais, quero achar. Será que a vida é só perder, cair, alimentar o animal da solidão? Qual seria o plano?

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