sábado, 17 de maio de 2014

FragMentes

   Julia acabara de escutar aquela canção que não lhe saia da cabeça: "A gente é feito pra acabar, a gente é feito pra dizer que sim. A gente é feito pra caber no mar, e isso nunca vai ter fim." Não sabia por qual motivo esse trecho não lhe saia da memória, seria por que seu relacionamento havia deixado uma dor aguda por tantas expectativas jogadas ao vento?
  Julia não sabia o porquê, mas sentia-se traduzida ao cantar repetidas vezes esse trecho, era como se a música ultrapasse sua
linguagem, ela sentia-se somente, e dava-lhe uma enorme vontade de chorar quando o refrão surgia:
 "A gente é feito pra acabar."
 Trancada em seu quarto, refletia os inúmeros relacionamentos que lhe fizera sentir-se completa e depois fragmentada, cortada, aos pedaços. Colecionava cartas amorosas de pessoas que lhe fizera sentir oceânica, sentir-se "cabendo no mar."
Depois, a separação, a solidão e a angústia.
Viver seria aquele eterno ciclo de alienação e separação? Parecia que sim, e isso parecia-lhe insuportável. O seu quarto, no quinto andar do prédio recém-comprado pelos pais, possuía uma vista egrégia para o mar, ela ficava na sacada por horas, escutando o barulho das ondas distantes, enormes, descomunais que se desfaziam ao chegar à praia, elas lembrava-lhe seus amores, seus planos colossais, porém passageiros. Nada fazia sentido, e essa perda de sentido para com a vida dava-se porque ela achava-se uma repetição, uma mera canção repetida com um refrão meditativo.


Julia estava ferida, a canção não lhe saia dos lábios, repetia baixinho: "A gente é feito  pra caber no mar." Repetindo, atirou-se da janela.
 Pobre Júlia partiu sem entender que "isso nunca vai ter fim.”



Por: Jakeline Silva.


Fonte da imagem: https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=643&q=PESSOA+NA+JANELA+TRSITE

4 comentários:

  1. O grande problema não é que enfrentamos o fato de nos sentirmos sozinhos, pois até sabemos que hora ou outra iremos passar por isso, o grande dilema é termos que acreditar que alguém poderia nos bastar, que poderíamos no TU, sermos plenos e cheios de sentido. Ah... Se não fossem nossas faltas, o que seria de nós? O que nos falta é o que nos move e o que nos move tem o poder de nos saciar pelo menos por alguns instantes. A beleza de viver é realmente entender que somos feitos para acabar e que por isso devemos desfrutar a vida de forma intensa. ;)

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  2. Texto lindo e que me levou mais uma vez a refletir sobre a vida. Estar vivo dói,gostar de viver é também sofrimento, nos envolve em muitos traumas. Porém viver é extremamente magnífico e não podemos descobrir nossos 'Sim-tomas' por outro meio que não seja VIVENDO.

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    1. Falando em canção...
      Agora me veio à memória "Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor."

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  3. Pois bem, Sim-toma, a angústia é uma condição básica da vida.

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