quinta-feira, 29 de maio de 2014

O QUE É O TEMPO? O QUE NÃO É O TEMPO?

O que é o tempo para um adolescente em fase revolucionária de sua subjetividade, onde qualquer motivo, razão ou circunstância pode fazer com que ele tente romper com os padrões sociais, deixando de ser comprometido com o trabalho familiar, iniciando um curso superior
apenas por status social, usando a sua posição jovem para requerer vantagens para com seus pares, e de uma forma desmedida entorpecer-se no prazer artificial das drogas lícitas, e ilícitas. Diante do mesmo contexto, esse adolescente sem intenção, e demasiadamente intencionado, envolve-se em um acidente de moto que quase ceifa a sua vida, deixando-o inerte ao tempo e espaço durante 18 meses de reclusão e tentativa de uma retomada social, pois, esse período reflexivo, sem trabalhar, sem relacionar-se com a sociedade, e sem encontrar o seu lugar no mundo, acaba trazendo-lhe maturidade maior que algumas décadas vivenciadas por outros que não foram submetidos a processo semelhante... Ah, o tempo, o que seria ele para esse adolescente que, um pouco mais amadurecido, vivencia a morte da lei, da norma, instituídas em seu pai, sentenciado com câncer em fase terminal, resistindo ao martírio doentio por apenas 12 meses, quiçá por tudo isso... Esse mesmo tempo, o posiciona na vida, apresenta-lhe ao mundo adulto, e concede-lhe força suficiente para recomeçar, para ir além, tornar-se mais consciente do mundo... Ah, tempo sem jeito, quem é você? Podes ser reconhecido? Podes trazer mais conforto? Podes... Deixa quieto... Preocupa-te apenas com as escolhas! Ah, as escolhas, o que são elas para quem não está adequado ao padrão social vigente, acima do peso, com uma saúde comprometida, principalmente uma saúde mental descaracterizada... Efetua-se a escolha salvadora de sua vida, a cura de suas dores, a escolha definitiva para romper, ou melhor, enquadrar-se ao padrão... Ah, tempo... Ah, a escolha... Quem são vocês? Cirurgia bariátrica... Escolha efetuada, resolução dos problemas...? Quem sabe, sim! Quem sabe, não! Havia algo além do tempo, e de escolhas, apresentava-se quantidade de questões, como também, qualidade de respostas... Sendo assim, 26 meses e meio, ou 810 dias de remição, mais um stop na vida, 21 meses sem ingestão de alimentos, todos podiam sentir o sabor de qualquer coisa, até da terra, exceto ele... Sem necessidades fisiológicas efetuadas por vias normais, tudo via sondas... Após mais de dois anos de lutas e incertezas, já se contabilizavam 12 cirurgias, datas festivas e vida social enclausuradas em um ambiente de reestruturação corporal... Natal, Virada de ano, Carnaval, Semana Santa, Aniversário, São João... E, então, mais uma vez... Natal, Virada de ano, Carnaval, Semana Santa, Aniversário, São João... Meses de terapia intensiva, tantos tubos e fios, tantas agulhadas... Tanto sofrimento dele, e de todos que lhes cercavam. A pior fase, sem dúvida, foi quando ele perdeu a consciência de si mesmo. A esperança de todos ficou pequena, e deu vazão ao ceticismo e todos achavam lá no íntimo que o seu corpo não resistiria...  E, sem esse mesmo tempo, muito menos escolhas, aos poucos seu quadro foi evoluindo e avançado e o desespero deu lugar a uma pitada de esperança formada através da resiliência. Foram tantas cirurgias que as contas se perdem, muitas delas de alto risco! Resumindo... Um quadro que foi raro para ciência médica agora pode servir de base para ajudar outros pacientes. Após toda essa demanda, de contexto social, de saúde mental, constituição de subjetividade, perspectivas de vida, e de morte, incongruências subjetivas... Retomada de sua vida, de projetos, e de ajuda a outras pessoas... Agradece-se a todo o processo, toda a dor foi lição sublime e com ela todos crescem e melhoram! Ele não diz que este processo tenha finalizado talvez ele tenha sido de fato o início de um novo processo a ser trilhado a partir de suas dores. Assim como o ser mitológico denominado Fênix, renasce das cinzas para uma nova vida, ele renasce algumas vezes, e espera renascer ainda mais. Embora ele tenha passado por tudo que passou, não se arrepende dos problemas em que se meteu, porque foram eles que levaram-no até onde ele desejou chegar. Agora, tudo que ele tem, é esta espada, e ele a entrega para todo aquele que desejar seguir sua peregrinação. Leva, consigo as marcas e cicatrizes dos combates, que são testemunhas do que viveu, e recompensas do que conquistou. São estas marcas e cicatrizes queridas que devam abrir-lhes as portas do mundo novo, cheio de luz e trevas. Houve época em que viveu escutando histórias de bravura. Houve época em que viveu apenas porque precisava viver. Mas agora ele vive porque é um guerreiro, e porque quer um dia estar na companhia do tempo, e das escolhas que tanto desejou...

Por: Antônio Gonçalves da Silva Neto

4 comentários:

  1. Vive porque viver é para os fortes. Viver é para quem se atreve.
    A vida precisa de ti pra se manifestar. Admiro-te!

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  2. Só o tempo é capaz de nos ajudar a escolher, crescer, amadurecer e evoluir. Com o tempo a gente aprende que não vai ser tudo como a gente quer, que as pessoas vão nos decepcionar, que iremos errar mas também acertar e que estamos supostos a enfrentar o inacreditável.Com o passar dos anos, mudamos nossas opiniões, nosso modo de ver, de sentir, de amar, de se entregar... Passamos a entender certas situações e assim a vivermos melhor!!!!!

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  3. Uma grande história de superação e força... Parabéns pela postagem. Ficou perfeito.

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  4. Aplausos à ti, caro amigo, por esse olhar tão meticuloso à brevidade da vida. Ela e êfemera, por isso não pode ser pequena.


    "Essa é a coisa que a tudo devora
    Feras, aves, plantas, flora.
    Aço e ferro são sua comida,
    E a dura pedra por ele moída;
    Aos reis abate, à cidade arruína,
    E a alta montanha faz pequenina."

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