O que é o tempo para um adolescente em fase
revolucionária de sua subjetividade, onde qualquer motivo, razão ou
circunstância pode fazer com que ele tente romper com os padrões sociais,
deixando de ser comprometido com o trabalho familiar, iniciando um curso
superior
apenas por status social, usando a sua posição jovem para requerer
vantagens para com seus pares, e de uma forma desmedida entorpecer-se no prazer
artificial das drogas lícitas, e ilícitas. Diante do mesmo contexto, esse
adolescente sem intenção, e demasiadamente intencionado, envolve-se em um
acidente de moto que quase ceifa a sua vida, deixando-o inerte ao tempo e
espaço durante 18 meses de reclusão e tentativa de uma retomada social, pois,
esse período reflexivo, sem trabalhar, sem relacionar-se com a sociedade, e sem
encontrar o seu lugar no mundo, acaba trazendo-lhe maturidade maior que algumas
décadas vivenciadas por outros que não foram submetidos a processo semelhante...
Ah, o tempo, o que seria ele para esse adolescente que, um pouco mais
amadurecido, vivencia a morte da lei, da norma, instituídas em seu pai,
sentenciado com câncer em fase terminal, resistindo ao martírio doentio por
apenas 12 meses, quiçá por tudo isso... Esse mesmo tempo, o posiciona na vida,
apresenta-lhe ao mundo adulto, e concede-lhe força suficiente para recomeçar,
para ir além, tornar-se mais consciente do mundo... Ah, tempo sem jeito, quem é
você? Podes ser reconhecido? Podes trazer mais conforto? Podes... Deixa
quieto... Preocupa-te apenas com as escolhas! Ah, as escolhas, o que são elas
para quem não está adequado ao padrão social vigente, acima do peso, com uma
saúde comprometida, principalmente uma saúde mental descaracterizada...
Efetua-se a escolha salvadora de sua vida, a cura de suas dores, a escolha
definitiva para romper, ou melhor, enquadrar-se ao padrão... Ah, tempo... Ah, a
escolha... Quem são vocês? Cirurgia bariátrica... Escolha efetuada, resolução
dos problemas...? Quem sabe, sim! Quem sabe, não! Havia algo além do tempo, e
de escolhas, apresentava-se quantidade de questões, como também, qualidade de
respostas... Sendo assim, 26 meses e meio, ou 810 dias de remição, mais um stop
na vida, 21 meses sem ingestão de alimentos, todos podiam sentir o sabor de
qualquer coisa, até da terra, exceto ele... Sem necessidades fisiológicas
efetuadas por vias normais, tudo via sondas... Após
mais de dois anos de lutas e incertezas, já se contabilizavam 12 cirurgias, datas
festivas e vida social enclausuradas em um ambiente de reestruturação
corporal... Natal, Virada de ano, Carnaval, Semana Santa, Aniversário, São João...
E, então, mais uma vez... Natal, Virada de ano, Carnaval, Semana Santa,
Aniversário, São João... Meses de terapia intensiva, tantos tubos e fios,
tantas agulhadas... Tanto sofrimento dele, e
de todos que lhes cercavam. A pior fase, sem dúvida, foi quando ele perdeu a
consciência de si mesmo. A esperança de todos ficou pequena, e deu vazão ao
ceticismo e todos achavam lá no íntimo que o seu corpo não resistiria... E, sem esse mesmo tempo, muito menos
escolhas, aos poucos seu quadro foi evoluindo e avançado e o desespero deu
lugar a uma pitada de esperança formada através da resiliência. Foram tantas
cirurgias que as contas se perdem, muitas delas de alto risco! Resumindo... Um quadro
que foi raro para ciência médica agora pode servir de base para ajudar outros
pacientes. Após toda essa demanda, de contexto social, de saúde mental,
constituição de subjetividade, perspectivas de vida, e de morte, incongruências
subjetivas... Retomada de sua vida, de projetos, e de ajuda a outras pessoas...
Agradece-se a todo o processo, toda a dor foi lição sublime e com ela todos
crescem e melhoram! Ele não diz que este
processo tenha finalizado talvez ele tenha sido de fato o início de um novo
processo a ser trilhado a partir de suas dores. Assim como o ser mitológico
denominado Fênix, renasce das cinzas para uma nova vida, ele renasce algumas
vezes, e espera renascer ainda mais. Embora ele
tenha passado por tudo que passou, não se arrepende dos problemas em que se
meteu, porque foram eles que levaram-no até onde ele desejou chegar. Agora,
tudo que ele tem, é esta espada, e ele a entrega para todo aquele que desejar
seguir sua peregrinação. Leva, consigo as marcas e cicatrizes dos combates, que
são testemunhas do que viveu, e recompensas do que conquistou. São estas marcas
e cicatrizes queridas que devam abrir-lhes as portas do mundo novo, cheio de
luz e trevas. Houve época em que viveu escutando histórias de bravura. Houve
época em que viveu apenas porque precisava viver. Mas agora ele vive porque é
um guerreiro, e porque quer um dia estar na companhia do tempo, e das escolhas
que tanto desejou...
Por: Antônio Gonçalves da Silva Neto
Vive porque viver é para os fortes. Viver é para quem se atreve.
ResponderExcluirA vida precisa de ti pra se manifestar. Admiro-te!
Só o tempo é capaz de nos ajudar a escolher, crescer, amadurecer e evoluir. Com o tempo a gente aprende que não vai ser tudo como a gente quer, que as pessoas vão nos decepcionar, que iremos errar mas também acertar e que estamos supostos a enfrentar o inacreditável.Com o passar dos anos, mudamos nossas opiniões, nosso modo de ver, de sentir, de amar, de se entregar... Passamos a entender certas situações e assim a vivermos melhor!!!!!
ResponderExcluirUma grande história de superação e força... Parabéns pela postagem. Ficou perfeito.
ResponderExcluirAplausos à ti, caro amigo, por esse olhar tão meticuloso à brevidade da vida. Ela e êfemera, por isso não pode ser pequena.
ResponderExcluir"Essa é a coisa que a tudo devora
Feras, aves, plantas, flora.
Aço e ferro são sua comida,
E a dura pedra por ele moída;
Aos reis abate, à cidade arruína,
E a alta montanha faz pequenina."